sábado, 17 de julho de 2010

O mês de Julio

O mês de julho trouxe a chuva ou a chuva trouxe o mês de julho? A única certeza era de que a chuva tinha trazido o Julio de volta.


1.

O Julio tinha entrado no negócio de guarda-chuvas fazia dois meses. Foi em dezembro, ela se lembrava muito bem. Ele largou tudo e montou uma barraquinha na esquina da Primeiro de Março com a Sete de Setembro.

Mas em fevereiro parou de chover no Rio de Janeiro. Ao longo de uma semana, os únicos pingos d’água que caíram do céu foram os que despencaram de algum ar-condicionado sobrecarregado do Centro da Cidade.

Nenhum sinal de São Pedro rondando a Cidade Maravilhosa.

“São Pedro está em cima de São Paulo”, o Julio disse. Ela, que sempre fez cara feia pros trocadilhos dele, não riu. Aí o Julio encheu o saco. Encheu a mala de guarda-chuva e se mandou pra São Paulo. Na terra da garoa estava chovendo desde novembro do outro ano.

Para a surpresa dos mais próximos, ela não sentiu a ausência do Julio. Não era muito de sentir saudades, era o que dizia. Aproveitou aquela tranqüilidade para tirar férias. Passou os quinze dias que não trabalhou deitada na areia da praia de Ipanema. De vez em quando se lembrava do Julio debaixo da chuva de São Paulo e ria de deboche.

2.

Voltou ao trabalho e nenhuma gota de chuva à vista. Nenhum sinal do Julio também. O jornal falava na “maior estiagem no Rio desde abril de 2004”. As conversas triviais sobre o tempo, próprias para se ter no elevador ou entre pessoas desconhecidas, tornaram-se debates complexos em toda mesa de bar da cidade. Em São Paulo, a chuva não dava trégua.

O calor ficou insuportável no Rio de Janeiro. Assim como quase todo mundo, ela passou a checar a previsão do tempo diariamente. Mas era só olhar para o céu para precisar que não viria chuva por um bom tempo.

Então ela se cansou do bom tempo. Começou a sentir falta dos guarda-chuvas do Julio espalhados pela casa.

3.

Num belo dia, parou de chover em São Paulo. O prefeito decretou feriado. O Jornal Nacional transmitiu ao vivo uma grande festa na Avenida Paulista – até que enfim o Julio ia voltar pra casa.

4.

O Julio telefonou no dia seguinte que a chuva parou. Perguntou como estava o tempo. Seco, ela respondeu, seca. Ele avisou que no Maranhão estava chovendo há sete dias e que não tinha previsão de estiagem. O negócio de guarda-chuva estava progredindo. Um beijo.

5.

Merda de cidade que não chove. Ela não se conformava com as enchentes que aconteciam no Acre. Uma injustiça, ela dizia. Já tinha chovido o suficiente no Mato Grosso em outubro do ano passado. Gente egoísta. Chegaram a anunciar, num happy hour que ela freqüentava na Treze de Maio, que o Cristo não queria que chovesse para não estragar seu bronzeado. Ela riu do trocadilho e lembrou-se do Julio. No Rio Grande do Sul, a previsão era de chuva para a semana que vem. Será que as gaúchas são mesmo tão bonitas quanto dizem?

Apesar de todo o sofrimento, poucas pessoas sabiam do seu drama. Quando ela comentou que fazia duas semanas que não parava de chover em Maceió, uma amiga sugeriu que ela comprasse uma passagem de ônibus e encontrasse o Julio lá.

6.

Ela deu como desculpa que, como boa virginiana do dia 25 de agosto, nunca cometeria um ato impulsivo desses. Mas já era junho e ela continuava esperando.

7.

Até que finalmente veio a chuva. Junto com ela, no dia primeiro de julho, veio o Julio – como num trocadilho do destino.

Ela abriu a porta, os braços e sorriu.

9 comentários:

  1. Como eu amo oq vc escreve.
    Beijos Haiut

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  2. Vc é genial! GENIAL!! Amei muuuito, que coisa mais linda!!!

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  3. Lu, GENIAL!
    amei! uau, virei sempre aqui!

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  4. (pra tu ver que vc já posta e no mesmo dia teus fãs clamam por mais!)

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  5. Genial, tempos que eu não lia algo novo.
    parabéns!

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  6. Luiza, muito bom! Adoro tudo o que você escreve!!

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  7. Pelamordedeus, faz um curso de roteiro AGORA! Já era para você estar rica e escrevendo roteiro para cinema e tv. E eu falo sério.

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