sexta-feira, 20 de março de 2009

diálogo entre duas pessoas completamente diferentes

– Você viu Hamlet?

– Vi.

– Gostou?

– Não vou falar.

– Por que não?

– Cala a boca!

– Quê?!!

– Você vai estragar tudo.

– Tudo o quê??

– Ah, sei lá. Tudo que a gente tem.

– Mas a gente não tem nada, maluca.

– Eu sei... mas se você continuar falando a gente vai se odiar pra sempre.

– Como assim?

– A gente vai se odiar antes de ter alguma relação concreta. Você vai me achar uma imbecil por mais que eu não seja. E eu vou te achar um babaca também.

– Por que eu acharia isso de você?

– Por que a gente pensa diferente.

– E desde quando isso é motivo pra duas pessoas se odiarem?

– É que a gente pensa MUITO diferente.

– Você ta pirando.

– Vou te dar um exemplo. Eu odiei o CD novo do Marcelo Camelo e você amou.

– É verdade, mas e daí? Nós temos gostos diferentes, cabeças diferentes. Isso é bom, faz a gente crescer, discutir, argumentar.

– Jura que você não acha isso um problema?

– Juro.

– Ufa. Que bom.

– Agora me diz. O que você achou de Hamlet?

– Odiei.

– Jura...? Engraçado... eu adorei.

– Claro que você adorou.

– Pois é... acho que eu vou nessa. Beijo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

mr e mrs brown

ele é encanador e ela é assistente social. juntos tem dois filhos (um casal) a quem deram nomes complicados de origem africana. a filha, mais velha, faz faculdade em algum lugar da inglaterra e usa um penteado esquisito na foto. o filho estuda numa escola interna e gosta de esportes e hip hop.
mr brown odeia alho e por isso mrs brown tempera o feijão enlatado de domingo só com pimenta. tem um gosto horrível. mrs brown é chocólatra.
em maio, eles foram a uma festa. estavam muito bem vestidos. à uma hora da madrugada eles já estavam de volta. trouxeram uns amigos. eles eram pretos e gordos e tinham uma gargalhada gostosa de ouvir.
mr brown pôs um disco na sua vitrola antiga e todos riram e dançaram e fumaram até de manhã. 


http://www.youtube.com/watch?v=Bo-2gVavrFU

segunda-feira, 16 de março de 2009

uma vez eu conheci um garoto tão incrível que eu fiquei horas só ouvindo ele falar, ele tinha uma vida completamente diferente da minha, fiquei muda perto dele, como ele era interessante, era fanático por cinema esloveno, pintava alguns quadros no estúdio onde morava num lugar isolado, me contou que conhece a europa e a ásia e que já foi pra oceania, que foi seqüestrado por um grupo terrorista na república tcheca, e que quase se afogou pegando uma onda na tailândia, eu ouvia com empolgação as suas historias, então ele fez alguma piada que me fez rir até ele me avisar que eu tinha qualquer coisa preta presa no dente, então rimos mais, até que ele parou de repente e me perguntou onde eu estava esse tempo todo, então começamos a nos beijar, e era tão bom, tão bom, tão bom que eu fui embora antes que eu me transformasse de uma hora pra outra na mocinha de um filme americano água com açúcar.

domingo, 15 de março de 2009

querido,
saudades. como estão as coisas? quero lhe falar.
desde que você partiu as coisas não tem sido fáceis para mim e para mamãe. os recursos que você tem nos mandado não tem sido suficientes. a doença de mamãe tem piorado e a cada mês que passa gastamos mais com remédios.
por favor, não me entenda mal. não estou escrevendo para lhe cobrar nada. eu sei que você nos manda mais da metade do seu salário e que já faz um esforço sobre-humano para nos manter com dignidade. acontece que nem eu nem mamãe queremos mais que você tenha de arcar com nossas despesas e com os infortúnios de nossa família.
por isso lhe escrevo. para lhe dizer que vou me casar semana que vem. estou saindo com o gângster que mora na rua em frente. ele me pediu em casamento e eu aceitei.
antes que me pergunte, ele não é mais bonito que você, nem me faz mais feliz na cama. caso-me por que me preocupo com você.
sei que não acreditará em minhas palavras, mas, mesmo assim, quero que saiba que elas não saem de outro lugar senão do coração. mafiosos como ele tem progredido muito na cidade. sei que me casando com ele nem você nem mamãe passarão mais dificuldade alguma.
não se preocupe comigo. ficarei bem, ainda que lembrando-lhe sempre. só lhe peço que nunca mais me procure. estamos nos mudando esta semana. o casamento será lindo, como sempre imaginamos que o nosso seria: em alguma ilha remota do pacífico. 
eu amo você.
muitos votos de felicidade,
diane.

domingo, 8 de março de 2009

o queijo

o queijo meio amarelo meio branco com damasco e com castanha
o queijo na geladeira
o queijo e alguém curioso
o queijo intacto
o queijo na geladeira mais uma semana
o queijo intacto
o queijo na geladeira duas semanas
o queijo mais amarelo menos branco com damasco e com castanha
o queijo intacto
o queijo invisível...

o cheiro do queijo na geladeira
o queijo forte
o queijo vivo
o queijo vivo
o queijo vivo
o queijo forte e vivo e alguém curioso
– Joga essa porra fora!!

(para manuela andreoni)

sexta-feira, 6 de março de 2009

laurinha morena

laurinha morena dos pés à cabeça (eu mal consigo ver os seus contornos) parece uma prima de volta redonda imersa no verão de mil novecentos e noventa e poucos

conto de terror

Cenário de faroeste americano. Chão arenoso, terreno árido. Somente uma porta daquelas de vaivém que não vai nem vem pois está quebrada. Chega um casal vestido com roupas de hoje em dia.

Ela – ufa.

Ele – até que enfim chegamos.

Ela – mas chegamos onde?

Ele – não sei só sei que chegamos.

Ela – é, isso eu também sei.

Ele – ta sentindo o mesmo que eu?

Ela – alivio?

Ele – sim. Alivio.

Ela – engraçado. Nós não viemos a cavalo, né?

Ele – não. viemos correndo.

Ela – mas eu não me sinto cansada.

Ele – nem eu.

Ela – então como você sabe que viemos correndo?

Ele – não sei. Só sei que fugimos correndo.

Ela – do que estávamos fugindo?

Ele – não me lembro.

Ela – nem eu. mas definitivamente estávamos fugindo.

Musica de suspense.

Ela – que musica é essa?

Ele – não sei. Algo ruim deve acontecer em alguns instantes.

Ela – olha. É ela.

Mulher entra vestindo um vestido de filme de faroeste empunhando duas pistolas, uma em cada mão, e se esconde atrás de um arbusto que foi colocado enquanto o casal conversava.

Ele – (sussurrando) quem é ela?

Ela – não me lembro. Mas acho que estávamos fugindo dela. Você não sente?

Ele – sinto. Medo, né?

Ela – medo. Dela.

Ele – ei. Esses arbustos não estavam aí.

Ela – ih... não mesmo. Que estranho.

Ele – você acha estranho?

Ela – na verdade, não.

Ele – eu também não.

Ela – ela não pára de nos olhar. Você acha que ela vai nos matar?

Ele – não. mas mesmo assim estou com medo.

Ela – isso parece um pesadelo.

Silencio.

Ela – ela não vai falar nada?

Mulher sai de trás dos arbustos.

Ela – é ela.

Ele – ela quem?

Ela – não sei. Só sei que eu conheço. Não é a sua ex, Valéria?

Ele – Acho que não. talvez seja o lucio mauro filho.

Ela – mas é uma mulher.

Ele – talvez sejam os dois.

Ela – será? Estou com medo.

Se abraçam. Ela percebe que ele tem uma pistola presa no cinto.

Ela – isso já estava aí?

Ele – a pistola?

Ela – é.

Ele – acho que não. mas agora está.

Um telefone toca em algum lugar. Os dois ficam procurando de onde vem o som. Descobrem que vem da casa por trás da porta de vaivém.

Mulher – vocês não vão atender?

Aponta as pistolas para os dois.

Ela – eu vou.

Mulher – você não. ele.

Ele – por que?

Mulher – ela fica.

O casal se olha assustado. O telefone continua tocando.

Mulher – eu acho melhor você atender.

Ela – vai, amor. É melhor você atender mesmo.

Ele – como você sabe?

Ela – eu não sei.

Ele se dirige à porta. Ela o acompanha com o olhar enquanto a mulher some sem que ela perceba. Ele volta.

Ela – quem era?

Ele – George bush.

Ela – o pai ou o filho?

Ele – o pai.

Ela – e o que ele queria?

Ele – passar a receita dos remédios da minha avó.

Ela – ah.

Ele – espera. Cadê aquela mulher?

Ela – não sei. Desapareceu.

Ele – ufa.

Ela – está sentindo o mesmo que eu?

Ele – alivio?

Ela – sim. Alivio.

refrão

lá em santa teresa lá em santa teresa

de novo  lá em santa teresa eu quero

ouvir lá em santa teresa lá em santa

teresa todo mundo lá em santa

teresa em santa teresa em

santa teresa

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