terça-feira, 28 de julho de 2009

Lady Di

Quando a Lady Di morreu, as quatro senhoras se reuniram na frente da televisão. Não se falava em outra coisa, somente no acidente – terrível! Na sala da dona Lelena, contavam-se os minutos para o RJTV e, quando o apresentador dava boa noite, preparava-se um café pra esperar pelo Jornal Nacional. Na hora da novela: “muda o canal, Lelena, deve tá dando a Daiana no SBT”. Quando dava o plantão: “ai, meu deus do céu!” e um silêncio sepulcral. Que perda pra humanidade!

A Estela comentou que quando o Ayrton Senna morreu foi muito bonito. Todo mundo chorando diante dos enfeites do caixão. Gente rica tem essas mortes bonitas, observou a Filomena. A Diana, que não era Daiana e sim Diana mesmo, ficou com pena dos filhos da princesa. Daqui a pouco passa, Diana, daqui a pouco passa, consolava a Terezinha.

Os vizinhos que passavam por lá ficavam sabendo das novidades. “Diz que o motorista tava bêbado!”. “Um homem desses tem que ir pra cadeia!”. Tentaram explicar pra Estela que o motorista também tinha morrido no acidente. “Um homem desses tem que ir pro inferno”.

Durante o programa de fofoca que passava à tardinha, falaram que a princesa traía o príncipe Charles. “Sabia!”, disse a Terezinha. Mas a Estela e a Filomena acharam aquilo um absurdo. A discussão sobre o possível adultério durou até a hora do velório. “Quem é esse?”, quando apareceu o Elton John. Um gay cantando pra família real, “que é que você acha disso?!”.

Cada uma achou uma coisa, até que um dia a vida voltou ao normal. E quando a Diana morreu, de ataque cardíaco, as três senhoras se reuniram na frente do caixão. Mas ninguém falou nada.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

plano maligno

o doutor pablo rubión ajuda o apresentador
do telejornal a enviar para todas as casas do
brasil via rede globo o vírus da gripe suína para
gerar o caos no país para que os hospitais não
tenham leitos suficientes e o remédio também
não vai ser suficiente e os cemitérios finalmente
não vão ser suficientes nem os coveiros se ainda
houver coveiros e aí o ibope não vai ser suficiente
graças a deus umas férias na argentina

quarta-feira, 15 de julho de 2009

FOTOGRAFIA

tem sempre aquela parte da família
da gente que parou bem no instante
em que bateram a foto da filha
do avô de todos na sala durante

o natal na casa da avó em volta
redonda e que ficou empoeirada
lotada de meleca que não solta
da boca da tia que dá risada:

– essa vai ficar pra posteridade!
e fica todo mundo congelado
na imagem de alta sensibilidade

mas pouca profundidade não ia
revelar que o joão – lá, desfocado
no fundo, dava pinta de maria


segunda-feira, 6 de julho de 2009

meu avô

eu sempre tive a certeza de que o meu avô iria morrer dormindo a sesta, lá na rede da varanda, depois de comer três pedaços da broa quentinha que a minha avó fez pra hora do lanche.

mas o meu avô (que tinha problema de coluna) nunca dormiu em rede, não gostava de broa e, por isso, morreu numa cama de hospital, depois de passar sete dias na UTI.

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